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Porque o brasileiro sempre paga mais caro

26 de set. de 2010

Imposto é o grande vilão do preço alto dos produtos no Brasil, mas não o único. Sistema financeiro, com juros altos, e economia aquecida também contribuem

Quando a Apple lançou a nova geração de iPods no começo do mês, o site brasileiro da empresa resolveu mostrar ao consumidor o que ele estava pagando de fato pelo produto. Ao lado do valor do Nano 8GB, que custa R$ 597, um asterisco alerta: “Inclui R$ 197 em impostos e taxas”. Foi uma maneira sutil encontrada pela companhia para dizer: “Sim, nossos produtos são caros, mas a culpa é do seu governo”. Proporcionalmente ao valor do produto, a taxa brasileira é gigantesca quando comparada a de outros países. No Brasil, os impostos do iPod equivalem a 33% do produto. Na Inglaterra, a 20%.



A discrepância entre os preços de produto idênticos no Brasil e no exterior poderia ocupar toda esta página. De carros a gasolina e de videogames a roupas, os brasileiros quase sempre pagam mais. O vilão do preço alto é velho conhecido dos contribuintes: os impostos. Ainda que a variável mais determinante para a formação do preço, porém, a tributação não é a única explicação para o fenômeno dos produtos caros no Brasil, segundo especialistas. O sistema financeiro, com altas taxas de juros, e até mesmo a economia aquecida, que diminui a possibilidade de descontos, também podem contribuir para diminuir o poder de compra do brasileiro.

Suponhamos o trajeto de um console de videogame até ele chegar ao consumidor final. Fabricado em Taiwan, o produto sai do país asiático a um custo X. Caso fosse vendido no balcão da fábrica, é razoável supor que o preço seria de X mais a margem de lucro. Como precisa atravessar oceanos, o primeiro adicional no valor é o custo do próprio frete. Chegando ao Brasil, o eletrônico paga uma taxa de importação, segundo tabela da Receita Federal. Somam-se em seguida outros impostos, como Pis, Cofins, IPI e ICMS. No fim da conta, um video-game que chegue custando R$ 500, por exemplo, pagaria algo em torno de 150% de taxas sobre seu valor até alcançar as prateleiras – chegando à cifra de R$ 1,25 mil. O preço do console ainda é acrescido da margem de lucro da fabricante e da margem de lucro do revendedor. O PlayStation 3, da Sony, que foi lançado oficialmente no Brasil apenas no mês passado (com atraso de quatro anos), custa R$ 1.999 em seu modelo mais básico. Nos EUA, ele sai por R$ 513.

Ao todo, segundo a Asso ciação Comercial do Paraná (ACP), há 83 tipos de impostos e taxas que ajudam a formar o preço dos produtos no Brasil – na maioria dos casos, eles respondem pela metade do valor cobrado pelo consumidor, de acordo com a entidade. “A tributação brasileira possui efeito cascata. Temos impostos sobre consumo – ICMS, IPI, PIS e Cofins –, sobre a folha de salários – INSS e FGTS, principalmente – e sobre o lucro – como o Imposto de Renda. Quando o produto chega no consumidor, todas essas taxas já estão embutidas no valor final, contribuindo para o encarecimento do produto”, afirma João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT).

Carros

O setor de automóveis é um bom exemplo de que os impostos não são o único motivo do preço alto. Dois aspectos ligados ao segmento podem ser usados para elucidar a formação do preço. “Quando você compara o carro feito aqui com um fabricado em outro país, como no Japão, é preciso lembrar que as plantas brasileiras não são tecnologicamente tão avançadas quanto lá. Isso quer dizer que o Brasil usa um número maior de funcionários por carro fabricado. Esse custo, claro, tem um impacto no preço final”, diz Olivier Girard, da Macrologística Consultores, especializada em infraestrutura de transportes.

Ele também cita outros dois fatores, ligados ao sistema financeiro do país. “O carro financiado sai bem mais caro aqui, porque se embute uma taxa de juros muito mais alta do que em qualquer lugar no mundo. Há, também, a questão da própria captação de recursos por parte das fabricantes e fornecedoras. Elas também vão ao mercado e pagam taxas altas pelas linhas de financiamento disponíveis. Tudo isso é custo”, afirma.

Girard lembra ainda que a economia aquecida faz com que as concessionárias não apliquem descontos nos preços. “Se você tem dez pessoas dentro da sua loja, você tem opção para quem vender. Se você tiver só uma, vai fazer de tudo para que ela compre o carro.”
 
da Gazeta do Povo

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