Diego Assis
De cara, é necessário desfazer um possível mal-entendido: a versão que o diretor de "Edward Mãos-de-tesoura" e "O estranho mundo de Jack" traz às telas em 3D é uma adaptação significativamente livre e razoavelmente misturada dos dois livros originais que contam as histórias da personagem de Lewis Carroll - "As aventuras de Alice no País das Maravilhas", de 1865, e sua continuação, "Através do espelho", lançada sete anos depois.
A atriz Mia Wasikowska prestes a mergulhar na toca do coelho em 'Alice no País das Maravilhas', de Tim Burton (Foto: Divulgação)
E é exatamente isso o que acontece. Lá embaixo, no Mundo Subterrâneo desenhado por Burton, Alice é recebida por uma galeria de personagens familiares que dizem lembrar-se dela de outra visita - na verdade, nomes como o Chapeleiro Louco, o Gato Risonho e a Lebre de Março foram vistos pela menina no primeiro romance; já figuras como Jaguadarte, a Rainha Vermelha e os gêmeos Tweedledum e Tweedledee só seriam conhecidos por Alice em "Através do Espelho".
A lagarta azul que fuma narguilé sobre um cogumelo é um dos personagens do primeiro livro (Foto: Divulgação)
Como já era de se esperar, na transposição de uma obra riquíssima como a de Carroll de uma mídia para outra, o diretor teve de optar por alguns episódios em detrimento de outros. Assim, vemos o encontro com a lagarta que fuma um narguilé e a partida de críquete no jardim em que flamingos são usados como tacos e ouriços fazem as vezes de bola, mas ficam de fora passagens memoráveis como o diálogo de Alice com o homem-ovo Humpty-Dumpty ou a luta do Leão e do Unicórnio. Outras são completamente inventadas.
Helena Bonham Carter como a Rainha Vermelha (Foto: Divulgação)
A absoluta falta de realismo de Carroll, como já se esperava, casa bem com o estilo visual de Burton, que aqui segue em seus tons sombrios, de maquiagens carregadas e cenários expressionistas. Mas o uso pouco impressionante dos recursos 3D, a animação por computador e a falta de originalidade em algumas cenas de perseguição à la "Avatar" ou "O senhor dos anéis" não jogam muito a favor do diretor - conhecido justamente por suas opções estéticas mais tradicionais no campo dos desenhos.
O coringa na manga deste "Alice" versão 2010 está justamente em seu elenco de atores em carne-e-osso. Helena Bonham Carter - mulher do diretor - está perfeita no papel da histérica e malvada Rainha Vermelha. Com seu corpinho diminuto e cabeçorra gigante, ela rouba a cena à cada aparição no filme. Johnny Depp também se destaca como Chapeleiro Louco. Com grandes olhos de gato e cabeleira cor de fogo, seu personagem alterna momentos de graça e de doçura com surtos ameaçadores de fúria - é a loucura em pessoa.
E tem Alice, claro. Aposta mais arriscada de Burton, a jovem e ainda pouco experiente atriz Mia Wasikowska até que se sai bem na pele da heroína principal. Se não pela carga dramática exigida, a atriz de 20 anos, jeitinho de menina, sobrancelha zero e porte de modelo de passarela tem as medidas perfeitas para o desfile de figurinos que veste no filme - o G1 contou ao menos sete trocas de roupa, de vestidos dignos da alta-costura e camisolas rendadas a uma pesada armadura de lata usada por ela na cena final.
Dado que a história e os personagens são razoavelmente conhecidos, são esses detalhes visuais que fazem a viagem de Burton pelo "País das Maravilhas" valer a pena. Mas, quando se chega ao final do filme, a sensação que sobra para quem acompanhou cada fotografia, teaser ou trailer divulgados pela Disney nos meses que antecederam a primeira exibição do filme é a de que talvez todas essas cartas tenham sido colocadas sobre a mesa cedo demais. A estreia tardia no Brasil, prevista só para daqui a um mês, também não ajuda.
Do G1.
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